Cerca de 300 pessoas participaram ontem pela manhã, da manifestação contra o aumento da tarifa das Barcas S/A, na frente da estação Araribóia, no Centro de Niterói. O reajuste de R$ 2,80 para R$ 4,50, que corresponde a mais de 60 % de aumento, estava marcado para acontecer ontem, mas foi adiado, na última quarta-feira, para amanhã. Segundo a Secretaria Estadual de Transportes, a mudança na data aconteceu para que fosse estendido o período para que usuários pudessem fazer o Bilhete Único intermunicipal.
Alguns manifestantes consideraram o adiamento do reajuste a primeira vitória do protesto, já outros encararam a decisão como uma tentativa de boicote a manifestação.
"Tentaram boicotar o movimento, mas eles não vão nos calar. Esse aumento é abusivo e essa é a única forma que temos de reivindicar nossos direitos", disse a paisagista Wlaner Travassos, de 34 anos.
Já para o professor Anderson Melo, de 35 anos, o adiamento é positivo. Segundo ele, é o resultado da força da união da povo.
"Esse é o primeiro resultado que tivemos com o nosso movimento. Estaremos aqui em frente às barcas todos os dias até conseguirmos impedir esse absurdo. O valor de R$ 2,80 já é muito caro pelo serviço prestado, R$ 4,50 é um roubo. Não podemos permitir que isso aconteça", disse.
O vereador Leonardo Giordano também considerou o adiamento do reajuste positivo.
"Quem consegue adiamento do reajuste, consegue impedi-lo", disse. Giordano foi uma das pessoas intimadas a depor na 76° DP (Centro), depois que circulou na internet um vídeo sobre um possível vandalismo durante o protesto. No entanto, o vereador esclareceu que não participou do vídeo em questão, mas que usaram a voz dele de um outro vídeo durante a edição.
O professor de história Henrique Campos Monnerat também foi intimado a depor em função do vídeo e no início do movimento recebeu uma liminar de um oficial da justiça, que o obriga a pagar R$ 5 milhões em caso de dano ao patrimônio das Barcas S.A. O Psol também recebeu a liminar.
"Isso é um absurdo, eles estão tentando nos intimidar, mas não vão conseguir. Esse é um movimento pacífico, que tem a intenção apenas de lutar por direitos. Eu sou professor estadual e ganho R$ 750 por mês e uso as barcas todo dia. Esse aumento vai pesar no meu bolso e no de todos, por isso não podemos ficar calados. Somos passageiros e não clientes", frisou Henrique.
O ex-diretor da Conerj e atual diretor da Federação Nacional
dos Trabalhadores e Transportes Aquaviários, Davi Vilar, que participou do
protesto das barcas em 1959, onde manifestantes incendiaram as barcas e outros
pontos da cidade, falou sobre os problemas das Barcas S/A e a diferença entre as
duas manifestações.
“As Barcas S/A presta um serviço muito ruim. Eles não têm
uma visão de administração de transporte aquaviário. A população tem mesmo que
se manifestar. Esse Bilhete Único é para camuflar o aumento, já que de qualquer
forma o dinheiro é do povo mesmo. A diferença entre as manifestações é que além
dessa ter sido pacífica, a de 59 foi espontânea. Os trabalhadores da empresa
entraram em greve, na época por causa de salários atrasados e no mesmo dia
houve um aumento no preço da passagem, o que provocou muita indignação na
população”, disse.
Durante todo o protesto, os líderes da manifestação tentaram conter os manifestantes mais exaltados. Uma pessoa pulou a roleta, mas logo foi retirada pelos seguranças.
De acordo com o comandante do 12º BPM, coronel Wolney Dias, para garantir a ordem pública, 60 homens do 12° BPM e do Batalhão de Choque estavam posicionados em frente à estação desde às 22h de quarta-feira.
A manifestação já vinha sendo anunciada e divulgada através
das redes sociais da internet. O vídeo que foi divulgado por manifestantes está
sendo investigado na 76ª DP, pois pode estar incitando o crime. No vídeo, um
manifestante diz “temos que ir para a rua mesmo e ‘tacar’ fogo”. Logo em
seguida, o vídeo mostra uma imagem da estação das barcas em Niterói, em 1959,
incendiada pela população devido ao aumento da passagem. Na época uma pessoa
morreu e mais de 100 ficaram feridos.