Texto: Priscilla Aguiar
Qual é o papel do jornalista de saúde? Como lidar de uma
forma ética e responsável e não ser invasivo ao tratar da doença de alguém?
Essas foram algumas das questões debatidas no simpósio de jornalismo do 7º
Congresso Multidisciplinar da clínica São Vicente, realizado na última
sexta-feira, no hotel Windsor Barra, na Barra da Tijuca.
Com os temas: Sigilo e divulgação e a cobertura jornalística
de saúde o simpósio contou com nomes de destaque na área da saúde e no
jornalismo. Entre eles o neurologista da Clínica São Vicente, Dr. Sérgio Novis;
o professor titular de Cardiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ); o jornalista do jornal O Globo, Ancelmo Góis; a produtora da revista
eletrônica da TV Globo Fantástico, Renata
Chiara, a gerente de comunicação da Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS), Olenka Lasevith, o jornalista da revista Carta Capital, Rodrigo Martins,
a apresentadora do programa Espaço Aberto Saúde da Globo News, entre outros.
Para o jornalista Ancelmo Góis, o sigilo é praticamente
impossível nos dias de hoje. Contudo, Ancelmo destaca a importância de se
discutir o tema.
“Estamos sendo acompanhados durante todo o dia, seja por
pessoas com dispositivos tecnológicos, seja por câmaras de vigilância, o sigilo
hoje é quase impossível. Por isso os jornalistas, que têm o papel de divulgar,
ganharam dos médicos, que ficam com a parte do sigilo”, brincou o jornalista.
Ancelmo ressaltou a importância de se discutir sobre o tema. Para ele muitas
pessoas abrem mão do sigilo ao escolher sua profissão.
“Artistas, políticos e outras classes, abrem mão do sigilo,
a partir do momento que fazem a escolha por essas profissões. Essas pessoas
estão sempre sendo vigiadas. Por isso é interessante e importante esse debate.
Será que essas pessoas têm direito a sigilo?”, questionou Ancelmo. O jornalista
destacou ainda o papel positivo da imprensa. Para ele, em muitos casos a
imprensa pode salvar mais vidas do que mesmo o profissional de saúde.
“Em muitos casos de pestes, AIDS, e diversas doenças, a
imprensa teve um papel muito positivo e salvou mais vidas do que mesmo o
médico, ao informar sobre cuidados e sobre como se prevenir”, disse.
A jornalista Renata
Chiara ressaltou a responsabilidade que o jornalista tem, ao tratar de uma área
íntima de alguém, como é a doença.
“Precisamos sempre ser éticos, tentar ao máximo não ser
invasivo e tratar de uma forma suave. A doença dessa pessoa tem que ser um
exemplo de superação, por isso temos que ter o cuidado de mostrar a pessoa bem,
o cuidado de antes de fazer a matéria saber até aonde a pessoa vai querer ir. Essas preocupações são importantes para se
fazer uma matéria com responsabilidade e mesmo se tratando de uma doença, ser
suave para quem participa e para quem vê”, salientou.
Para o jornalista Rodrigo Martins, os erros mais comuns que
o jornalista comete em coberturas de saúde são: espetacularização da tragédia,
confundir os papéis e começar a fazer prescrições e fazer a denúncia
simplesmente pela denúncia.
“Encontrar um pessoa que está há três horas numa fila de
hospital é simples. Mas isso não basta, tem que ir além, saber porque o
hospital está nessa situação, quantas pessoas estão nessa fila, quantos médicos
têm para atender essas pessoas. Se é um problema estrutural, um problema de
gestão, de falta de profissionais. É interessante perguntar a um parlamentar o
que está sendo feito para melhorar a saúde. Precisamos refletir o que é de
interesse público e de que forma o jornalista pode contribuir para mudar essa
realidade. Pegar apenas um caso e
denunciar é certamente mais fácil, mas temos uma responsabilidade e precisamos
ser agentes catalisadores de mudança”, enfatizou.
O Jornalista Antônio Marinho do jornal O Globo explicou que
a tendência do jornalismo de saúde hoje é focar mais no bem estar e menos na
doença.
“A tendência é dar prioridade para as matérias mais leves,
de bem estar e cada vez menos matérias de doenças. Para fazer coberturas de
saúde o jornalista precisa fazer uma boa pesquisa antes, falar mais sobre como
melhorar a qualidade de vida. Em caso de matérias de doenças, falar sobre
tratamentos sem focar muito nos medicamentos e nunca dar falsas esperanças”,
explicou.
Questionado sobre a dificuldade de se encontrar pessoas que
tiveram ou têm alguma determinada doença, o Dr. Sérgio Novis explicou que se
caso o paciente quiser falar com a imprensa ele assina um termo de
consentimento e o hospital não se opõe.
“Se o próprio paciente quiser falar com a imprensa, é só ele
assinar o termo de consentimento que não terá problema nenhum. A entrevista
será apenas assistida por algum profissional de saúde”, disse. Dr. Sérgio Novis
finalizou ressaltando a importância do profissional de saúde ir a imprensa
esclarecer dúvidas.
“Há médicos que não vão à imprensa, mas temos o dever de ir,
de informar eticamente de esclarecer dúvidas. Se um médico responsável não vai,
a população vai ficar prejudicada com um vazio, ou outro que não tem
responsabilidade pode ir e falar de uma forma errada. Temos profissões irmãs,
cada uma com a sua área, mas as duas para servir o ser humano”, concluiu Novis.
Priscila, ótima matéria. Vários jornalistas com nome de epso aprticiparam deste congresso. Parabéns pela matéria, você vai longe!
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